O lado oculto das promessas: os perigos das propagandas de franqueadores
A "melhor" franquia para se investir
No mundo das franquias, assim como em qualquer mercado competitivo, a propaganda é uma ferramenta poderosa — mas também perigosa quando usada de forma irresponsável. Se por um lado a comunicação eficaz é essencial para atrair investidores, por outro, promessas exageradas, ostentações falsas e manipulações emocionais podem comprometer a credibilidade de toda uma rede.
Este alerta vale tanto para quem pensa em investir em uma franquia, quanto para franqueadores sérios que querem se distanciar de práticas enganosas.
1. Todo vendedor valoriza os pontos positivos — mas há limites
É natural que todo vendedor destaque o melhor de seu produto ou serviço. Isso acontece em todos os segmentos: um vendedor de carro, de curso online ou até uma escola particular. Uma escola pode ter professores altamente qualificados, mas talvez falte espaço físico ou tenha uma mensalidade mais alta. Cabe ao comprador (ou, nesse caso, ao pai que vai matricular o filho) investigar, pesar os prós e contras e decidir se os pontos negativos são toleráveis.
No franchising não é diferente.
O franqueador sempre vai mostrar os diferenciais da rede, o potencial do modelo de negócio e os melhores resultados. Isso é parte do jogo. O problema é quando o exagero ultrapassa o limite do aceitável — e passa a induzir o investidor a erro.
2. Os níveis de distorção: de omissões sutis a mentiras descaradas
Existem diferentes níveis de “embelezamento” nos anúncios de franquias:
Franqueadores responsáveis, que destacam os pontos fortes e explicam claramente os riscos e limitações do negócio. Por exemplo: “Nosso faturamento médio é X, mas temos 2 ou 3 unidades que faturam acima da média. O que entregamos é isso — e é com isso que você deve contar.”
Franqueadores que exageram, aumentando levemente o potencial ou omitindo dificuldades comuns, mas sem necessariamente mentir.
Franqueadores que mentem, apresentando como média um faturamento que nenhuma loja realmente alcança, ou falando em “lucro de até R$ 20 mil” quando, na prática, a operação mal se sustenta.
Esse último grupo é o mais perigoso, pois cria uma expectativa completamente desconectada da realidade, atraindo pessoas pela ilusão, e não pelos resultados reais.
3. Ostentação fabricada: o show que engana
Outro artifício comum é o uso da ostentação para transmitir solidez. Vídeos gravados em prédios alugados, pátios cheios de motos ou carros que não pertencem à franqueadora, equipes infladas só para impressionar investidores. A ideia é criar um cenário de sucesso artificial — que não se sustenta no dia a dia da operação.
4. Número de lojas inflado: da intenção ao engano
Uma franquia com 12 unidades pode dizer que “está chegando na loja 200”, considerando contratos futuros, intenções de abertura ou até lojas que nunca saíram do papel. Essa manipulação do número de unidades serve como gatilho de prova social — e pode convencer o investidor desavisado de que está entrando em uma rede muito maior do que realmente é.
5. Depoimentos pouco confiáveis: amigos, novatos e atores
Os depoimentos apresentados nos vídeos e anúncios muitas vezes são de:
Franqueados muito recentes, que ainda não enfrentaram os desafios do dia a dia;
Franqueados amigos, que recebem benefícios extras e condições privilegiadas;
Ou até atores contratados, interpretando o papel de franqueado satisfeito.
Isso distorce completamente a percepção do investidor, que acredita estar ouvindo a experiência real de quem já passou por todas as fases do negócio.
6. Gatilhos emocionais e estratégias de pressão
Alguns gatilhos são comuns no marketing — como a escassez (“últimas 10 unidades com condição especial”) ou a urgência (“só essa semana”) — e não são ilegais. Porém, quando somados ao apelo emocional exagerado, podem se tornar manipulação pura:
“Conquiste sua liberdade financeira”
“Saia do CLT e tenha mais tempo com a sua família”
“Realize seu sonho com um negócio próprio seguro”
O problema é que, sem o apoio de dados concretos, essas frases alimentam sonhos sem lastro — e colocam em risco o patrimônio e o futuro de quem investe.
7. Franqueador honesto não vende ilusão — vende realidade
A transparência deveria ser o mínimo. Mas, infelizmente, ainda é um diferencial.
O bom franqueador mostra o que a maioria das lojas fatura, e não apenas as exceções. Ele não omite desafios. Ele diz com clareza o que o investidor pode esperar na média, e o que pode conquistar com esforço, dedicação e tempo.
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Conclusão: Investigação é mais importante do que empolgação
Antes de comprar uma franquia, trate o processo como uma decisão de alto impacto financeiro e emocional. Faça perguntas difíceis. Visite unidades. Converse com franqueados antigos (não apenas os indicados pela franqueadora). Leia o contrato com calma. Peça ajuda profissional.
Porque no mundo das franquias, o que parece bom demais para ser verdade… normalmente é.
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